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OPINIÃO: Amigo urso, amigo da onça, e outros amigos


Na cafeteria e na hora de sempre, degustava um café, absorta no andar dos transeuntes, quando Rui me surpreende ao chegar esbaforido, de mal com tudo, afirmando que no mundo só havia amigo urso.

Rápido viajei pelo pensamento, decodifiquei a expressão e lembrei que só podia se referir a alguém que se tornou um amigo falso, infiel, hipócrita, particularmente um traidor.

Aí, perguntei-lhe o porquê de tal afirmação, Rui disse: venho da reunião do condomínio, era aparentemente o único candidato a síndico, ontem fiz um churrasco para os vizinhos apoiadores, agora saio do pleito com um voto, o meu, nem minha mãe e minha irmã votaram em mim, quanto mais os vizinhos.

Sem que tivesse tempo de comentar o fato, chega a Lia indignada, nos interrompe convicta que tinha muito amigo da onça circulando pela cidade.

Com esta colocação viajei à infância, recordei da revista O Cruzeiro, que de 1943 a 1972 publicou este personagem, criado por Péricles Maranhão, colocando os amigos em situações hilárias. Esperei não sei quanto tempo, mas o suficiente para que os dois tomassem água, se acalmassem, e questionei: por que, Lia?

Ela contou: ontem, emprestei o carro para um amigo ir a Camobi e devolvê-lo hoje. Agora, me ligam pedindo os documentos, pois o carro foi dado em pagamento de uma dívida.

Em italiano tem um ditado que diz: não tem 2 sem 3. Naquela tarde, confirmei sua verdade, pois me despedia da dupla quando entra Cacá esbravejando: amiga como a minha substitui inimiga. Arregalei os olhos, olhei para Rui, para Lia, e pela 3ª vez veio: por que? Ele disse que está vendendo sua loja, e quando falava com a interessada, ela recebeu um whats de uma amiga comum dizendo que minha loja não vendia nem para pagar o aluguel, o negócio foi desfeito.

Antes que viesse mais um, antes que estourasse de tanto café, antes que me surpreendesse mais com os amigos alheios, me despedi e deixei o trio discutindo sobre as mazelas da vida.

Na rua, a passo lento, pensei que nada, nem amigo dura para sempre, que mesmo sob jura de inseparável, ele pode surpreender não tão positivamente e nos deixar no mundo da nostalgia.

Em casa, registrei as quimeras destas relações, e me questionei: será que é melhor um urso amigo, mudo, inerte, insípido, assexuado, que ficava na cama guardando o pijama, ou ter um amigo urso que apesar da ursada segue a vida comigo?

Depois, me perguntei: será que o amigo da onça é só um ser fictício e desapareceu em 1972 quando a revista parou de circular? Então, me coloquei a 3ª questão: amigo que se mostra inimigo é amigo, ou nossa expectativa em relação a ele era diferente do que ele tinha para nos dar?

Caro leitor, você já passou por uma boa com um amigo? Já se desiludiu com um deles? Achas que é possível reverter esta situação e seguir na amizade?

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